sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Uma doença ‘crônica’ chamada miséria

“Bombeiros acham restos que podem ser de criança desaparecida após incêndio”. Essa chamada no site do G1 me deixou perplexa e triste. Poderia ser mais um incêndio em uma favela, com a morte de uma criança, mas esse me chamou a atenção para a cena terrível de uma mulher humilde olhando as cinzas do que foram barracos e a possível morte da própria filha de 2 anos de idade, queimada, por sua suposta negligência. Duzentos barracos foram destruídos pelo fogo. Vizinhos desesperados e revoltados culpam a mulher pela tragédia que iniciou em seu barraco.
Mas, quem são os culpados de uma tragédia anunciada? A mulher que pode ser viciada em drogas e sem querer pôs fogo na casa? E os sistemas clandestinos de fiação elétrica que abraçam a favela, os chamados gatos, ligados por várias mãos? E o desemprego em massa? O dinheiro fácil do crime?
Barraco de madeirite, luz de graça e com risco de vida, esgoto a céu aberto, e essa gente pobre "vai tocando a vida do jeito que dá”. Até que a tragédia, antes anunciada, chega. E o dia sempre chega.
Toda essa desgraça é fruto da miséria crônica instalada num país como o Brasil. Como pode? Um país abundante em comida, dinheiro, sem grandes desastres naturais, não conseguir combater essa doença chamada miséria? Praticamente uma doença crônica, porque parece que não tem cura.
A culpa da morte do bebê não é daquela mãe desestruturada emocionalmente e financeiramente, de saúde debilitada, provavelmente sem acesso a uma educação de qualidade ou uma família estruturada. Adelina Bárbara do Nascimento, de 32 anos, é mais uma vítima do caos social estabelecido. O Brasil tem um câncer cuja cura aparecerá se um dia for conveniente. É assim que as coisas funcionam no País Tupiniquim desde o período colonial, passando pela abolição dos escravos, a Independência, a Proclamação da República, etc.
As submoradias são plataformas políticas que produzem votos. As favelas servem aos políticos e ao crime organizado que estabelece em cada núcleo, um poder paralelo. A miséria dá lucro para quem já vive na fartura.

Um comentário:

Unknown disse...

Oi, Barbara.
Fico feliz em ver você escrever sobre a miséria que, desgraçadamente, serve para que alguns possam se beneficiar dela. O pior é que não se vê perspectivas que possam dar um pouco de esperança, especialmente a quem precisa viver com alguma dignidade.
Parabéns!
Adelino Rodrigues.